Quando excluímos os tumores de pele, o câncer de próstata é o principal câncer que acomete homens acima de 50 anos. Estabelecer estratégias para o diagnóstico precoce, rastreamento e avaliação clínica inicial, são importantes para aumentar as chances de cura e diminuir os riscos de sequelas relacionadas aos tratamentos.
A maioria das informações sobre rastreamento e diagnóstico precoce na literatura internacional vem de países desenvolvidos.(1–6)
A realidade de países em desenvolvimento, no acesso ao atendimento médico e exames diagnósticos, pode não refletir os números encontrados na literatura científica publicada.(7)
Em publicação recente, um consenso de especialistas atuantes em países em desenvolvimento traz números e recomendações que podem ser úteis para o desenvolvimento de estratégias para melhorar a assistência aos homens com câncer de próstata em cenários de recursos limitados.
O Dr. Bruno Benigno [CRM SP 126265], Diretor da Clínica Uro Onco (SP) e Urologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP), participou como um dos especialistas do consenso e pontua os principais tópicos do estudo, abaixo:
Rastreamento do câncer de próstata:
O resultado do estudo mostra a opinião de 99 especialistas da América Latina, América Central e África, a respeito de temas como: a idade para o início do rastreamento (em homens com e sem fatores de risco), assim como as melhores estratégias para o diagnóstico ( biópsia de próstata) e estadiamento da doença ( avaliação do estágio em que o câncer foi descoberto).(8)
O consenso em cada tópico foi atingido quando mais de 75% dos participantes entraram em concordância.
O trabalho também aborda pontos críticos, como:
A dificuldade para a notificação de casos novos em regiões como o continente africano e países de grandes dimensões, como o Brasil.
O impacto do envelhecimento populacional e o aumento na detecção de novos casos, fenômeno em curso no México e no Brasil, por exemplo.
Setenta e oito por cento dos participantes concordaram que o rastreamento deve ser universal para homens negros com mais de 45 anos de idade ou em todos os homens com histórico de um familiar com câncer de próstata . Nestes últimos, o rastreamento deve começar aos 50 anos.
Entretanto, em um cenário de recursos limitados, os participantes sugerem que o rastreamento deve ser limitado apenas aos homens com mais de 50 anos, independente do risco familiar ou raça.
Ferramentas para o diagnóstico do câncer de próstata
Aproximadamente 80% dos participantes concordaram na utilização de exames de imagem, ultrassonografia e ressonância magnética, como ferramentas de auxílio ao diagnóstico de pacientes com câncer de próstata.
Contudo, em um cenário onde haja limitação destes recursos, o rastreamento pode ser feito utilizando apenas o PSA o exame digital (toque retal).
Ferramentas para estadiamento
Para 82% dos participantes, em homens portadores de câncer de próstata de baixo risco, não há necessidade de exames como cintilografia óssea ou ressonância magnética para o estadiamento.
Para homens com câncer de próstata de risco intermediário, com limitação de recursos do sistema de saúde, o estadiamento pode ser feito com cintilografia óssea e RX do tórax.
No cenário de homens com doença de alto risco, os painelistas recomendam fortemente a utilização de exames como a cintilografia óssea e a ressonância magnética.
O PET de PSMA não deve ser obrigatório em:
antes da biópsia
pacientes de baixo risco e risco intermediário
O PET DE PSMA é opcional em pacientes com doença localmente avançada e fortemente recomendado em pacientes com doença metastática ( quadro onde houve a disseminação da doença para outras áreas do corpo).
Em um cenário de recursos limitados, o PET de PSMA não é obrigatório para o estadiamento e acompanhamento.
Qual a importância deste estudo:
Entender melhor a realidade de assistência à saúde em países em desenvolvimento é crucial para o aprimoramento de estratégias de políticas públicas adaptadas, favorecendo a utilização mais racional dos recursos limitados disponíveis.
Canalizar a estrutura física, capital humano e financeiro para grupos de homens com maior possibilidade de manifestar doença agressiva, de forma a oferecer tratamento precoce, adequado e sem desperdício de recursos.
Oferecer um panorama de custo e efetividade às autoridades reguladoras de saúde, de forma a incrementar o diagnóstico precoce da doença clinicamente significante e diminuir a mortalidade do câncer de próstata, em particular, em populações que já iniciaram seu processo de transição demográfica, como o Brasil.
Estudo completo disponível em inglês em: https://ascopubs.org/doi/full/10.1200/GO.20.00527
Referências bibliográficas
1. Mohler JL, Gao X, Pow-Sang JM. NCCN Guidelines Index Table of Contents Discussion. Prostate Cancer. 2020;167.
2. Gillessen S, Attard G, Beer TM, Beltran H, Bossi A, Bristow R, et al. Management of Patients with Advanced Prostate Cancer: The Report of the Advanced Prostate Cancer Consensus Conference APCCC 2017. Eur Urol. fevereiro de 2018;73(2):178–211.
3. Mottet N, Bellmunt J, Bolla M, Briers E, Cumberbatch MG, De Santis M, et al. EAU-ESTRO-SIOG Guidelines on Prostate Cancer. Part 1: Screening, Diagnosis, and Local Treatment with Curative Intent. Eur Urol. abril de 2017;71(4):618–29.
4. Robinson D, Garmo H, Lissbrant IF, Widmark A, Pettersson A, Gunnlaugsson A, et al. Prostate Cancer Death After Radiotherapy or Radical Prostatectomy: A Nationwide Population-based Observational Study. Eur Urol [Internet]. dezembro de 2017 [citado 4 de março de 2018]; Disponível em: http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S030228381731031X
5. US Preventive Services Task Force, Grossman DC, Curry SJ, Owens DK, Bibbins-Domingo K, Caughey AB, et al. Screening for Prostate Cancer: US Preventive Services Task Force Recommendation Statement. JAMA. 8 de maio de 2018;319(18):1901.
6. Naji L, Randhawa H, Sohani Z, Dennis B, Lautenbach D, Kavanagh O, et al. Digital Rectal Examination for Prostate Cancer Screening in Primary Care: A Systematic Review and Meta-Analysis. Ann Fam Med. março de 2018;16(2):149–54.
7. Tourinho-Barbosa RR, Pompeo ACL, Glina S. Prostate cancer in Brazil and Latin America: epidemiology and screening. Int Braz J Urol Off J Braz Soc Urol. 2016;42(6):1081–90.
8. Carneiro A, Racy D, Bacchi CE, Leite KRM, Filippi RZ, Martins IAF, et al. Consensus on Screening, Diagnosis, and Staging Tools for Prostate Cancer in Developing Countries: A Report From the First Prostate Cancer Consensus Conference for Developing Countries (PCCCDC). JCO Glob Oncol. abril de 2021;7:516–22.
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